domingo, 19 de dezembro de 2010

Segue o link de um blog sobre história, documentos, essas coisas... é de um cara muito legal:
meu pai.
http://begname.blogspot.com/

Adriana Calcanhotto com Parangolé

Nesse vídeo a Adriana Calcanhotto mostra como fazer um Parangolé, que é aquele tipo de vestimenta que ela usa na capa do seu álbum Marítimo. Junto desse cd, vem a música Parangolé Pamplona, que também fala sobre isso.

Aprecio a leveza dela nesse vídeo, é como se a Adriana fizesse algo para se elevar, daí se libera e transcende. Eu gosto de fazer essas coisas loucas que me fazem entrar em contato comigo mesma, é fazer uma experiência de existir.

Parangolé Pamplona- Adriana Calcanhotto

O parangolé pamplona você mesmo faz
O parangolé pamplona a gente mesmo faz
Com um retângulo de pano de uma cor só
E é só dançar
E é só deixar a cor tomar conta do ar
Verde
Rosa
Branco no branco no peito nu
Branco no branco no peito nu
O parangolé pamplona
Faça você mesmo
E quando o couro come
É só pegar carona
Laranja
Vermelho
Para o espaço estandarte
"Para o êxtase asa-delta"
Para o delírio porta aberta
Pleno ar
Puro Hélio
Mas
O parangolé pamplona você mesmo faz

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A tinta da minha caneta acabou... e ando passando por uma crise existencialista barata, sem ao menos possuir o direito de tê-la. Em fim, sinto que preciso sair pela casa recolhendo os cacos de mim, para me remontar.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

À parte.

Sinto que deveria viver num casulo. Ou em um mundo em que fosse insignificante demais para entristecer alguém.

- Você veio aqui pra isso?
- Não.
-Então porque age assim?
- Não sei . Sei que fiz. Errei.
- Então corrija.
-Impossível.
-Nada é impossível. Criança, você só foi tola demais.
-Não deveria acontecer.
-Você não pode controlar tudo sempre.
-Estou tentando aprender isso.

As mulheres são incríveis demais para que eu as estrague, destrua as suas belezas inúmeras com minha tolice infantil.


- estou ficando cada vez menor.
Corria. Corria por entre as folhas, os chinelos atolando no barro da roça. Queria se infiltrar na natureza, fazer parte dela e sentir-se como um animal se sente. Sentir a dor, a liberdade, ver como as coisas deveriam ser.
Corria, e sentindo seu corpo ainda pesado pela aparência humana, desejou tirar as roupas. Parou, e pensou se gostaria mesmo de destruir aquele elo com o mundo humano e moderno, pois aquela experiência era para sempre. Sentiria a sensação animal para sempre. Sim, gostaria. Desejava. Precisava.
E correndo, arrancou toda a roupa e junto dela, qualquer lembrança do mundo humano. E se juntando ao barro, aos animais, se camuflando nas plantas, estava limpa e puramente nua, para uma nova vida.
Adentrava na sensação, era como se agora, vivesse na natureza, como se estivesse sempre estado ali, e selvagem, não conhecera nada mais.
Sim! Pegaria chuva, viveria imunda, afundaria seus pés na lama, seria crua e nua. Deixara seus desejos íntimos á liberdade. E era assim que deveria ser.

sábado, 30 de outubro de 2010

Olhando-a ali nas prateleiras, vendo como muitos a amavam de longe, senti meu corpo bambo, prestes a desmaiar. Em sonho, passei a mão delicadamente sobre os livros, que frente aos dela, ficavam humildes. Então percebi: percebi que a tinha amor. Amava-a por ter sido genial e, sobretudo, por ter ido além de ser humana. Amava Clarice Lispector.

sábado, 23 de outubro de 2010

Me sinto fria, dura, seca e vazia. Como um toco oco, já corroído por cupins. Meus cupins são minhas malditas dúvidas e junto delas, minha covardia.

Pé de Limão

Hoje pela tarde, como de costume nos dias menos agitados, eu estava em meu quarto, deitada, a olhar para o pé de limão vizinho. Aquele pé de limão, que eu tinha como costume adormecer observando-o, que me trazia lembranças tão boas! Ele pertencia mais a mim do que ao vizinho, pois eu era quem o admirava durante as tardes calmas e ensolaradas.
Foi então que me veio uma ideia, assim de repente, como tem costume de chegar as grandes ideias, sempre sorrateiras. E aquele pensamento explicava toda a minha vida vazia: eu não sabia amar, entendia afinal minha tristeza contínua. E talvez nunca fosse mesmo saber. Sei que amor parece ser algo natural, mas talvez eu não gostasse mesmo do amor, ou gostasse demais, pois egoísta, tomava - o só pra mim, não o dava a ninguém, mantendo-o trancado em meu ser, secreto.
Amar é um verbo intransitivo, apenas amamos. Não importa quem, como ou por quanto tempo. Posso amar alguém por um minuto apenas, e nem por isso, deixei de amar. Penso assim sobre o amor, como algo dinamizado, que abrange desde um simples olhar a um sentimento eterno e intenso.
Mas, quando se tranca o amor, ele deixa de ser amor. Preciso me libertar de tudo isso, que de tão grande, ultrapassa minha forma física, explodindo o meu ser, em uma dor profunda. Ultrapassa meus limites, olho pra mim e vejo o egoísmo e a tristeza de um ser solitário. É preciso que deixe o amor voar, pousar em alguém, e ai, entregá-lo-ei a esse novo ser, sem temer as consequências e as feridas de quando ele já não pertencer a mim.
Amor é solidariedade, é desapego, é liberdade. Quem ama não se prende ao ser amado como quem quer acorrentá-lo. Amar não é possuir. Amor é sentimento de cada um, e ao mesmo tempo, sentimento de todos nós. Amor vai, amor volta, está em constante movimento, esfria, aquece, arde com a paixão. Traz tristeza, alegria, saudade, prazer, sabedoria, e tudo mais que você quiser ter. Amor é a chave para o mundo, mas para abrir portas, é preciso que tiremos as chaves do bolso.
É tão triste não saber amar. É como se não soubesse viver. Será que sei viver? Às vezes me passam essas ideias pela cabeça nessas tardes sossegadas.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

mentiras

Pra que fingir que não posso mais?
Pra que chorar pelo que já passou?
Pra que mentir dizendo sentir toda dor
Se na verdade, acho graça de todo o ardor?

Pra que me serviria à hipocrisia,
Pra provar-me mais inteligente?
A verdade pertence ao sábio,
e a esse o mundo.

Mentiras são tolices,
que vão com a mesma facilidade da água que escorre.
Servem pra tapar a fraqueza do burro,
que continua burro.

Mentiras são traições,
necessárias a nós humanos,
que mesmo sabendo disso,
seguimos pelo caminho errante.

Essa será nossa sina constante,
Até que, fujamos retirantes,
desse mundo infiel
Em que a mentira é gritante.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Vejo-te de longe, distante.
Tocando-me
Amando-me
Iluminando-me,
Poente.
Pôr-do-sol toda tarde.
Minha mente está doente
de tanto descansar,
enferrujou.
Não sabia que tempo de nada
era perigoso pras ideias
Ele assassinou elas.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O homem

Era tão bom tê-lo ao meu lado. Era como se eu me apoderasse dele, ele era só meu.
Agora, pela primeira vez, poderia me abrir, e falar do que quiser sem medo do que poderia ouvir. Sentia-me segura, com nunca antes senti. Uma segurança confortável, que me fazia bem. Seu abraço era o mais poderoso de todos, era tão bom tê-lo ali comigo, não tinha medo, me entregava a ele, pois sabia que não faria nada. Não ia querer me devorar como os outros animais que estavam ao nosso redor, ofegantes.
Minhas mãos tremiam, meu coração batia, não sabia o que dizer, mas era como se mesmo sem falar, ele conseguia me escutar e entendia.
A partir de agora teria o meu porto seguro. Ancoraria.
E ele, me protegeria das maldades ao meu redor, me abraçaria nos momentos difíceis, seria o que muitos não foram pra mim. Era mais macho que muito homem.
Era a luz que eu buscava, a ajuda que nunca tinha chegado. Em fim, podia sossegar e descansar em paz. Ele estaria ali.

domingo, 15 de agosto de 2010

Por toda minha vida fui deixado para trás.
Sempre fui pisoteado,
Nunca amei, nunca fui amado.
No meu caminho não encontrei quem me escutasse
E somente o silêncio foi capaz de me entender.

Andei até as pernas não conseguirem mais,
Vi tanta coisa que meus olhos cegaram.
Nunca disse uma palavra, mas escutei todas e descobri mais algumas.
Passei noites vazias,
E mesmo tendo com quem dormir,
Não vi.
Não vivi como deveria ter vivido.

Pelo meu longo trajeto,
Observei cada ser humano,
Mas não reconheci o humano em mim.
Assim vim me formando um verme:
Desprezível e insignificante.

domingo, 20 de junho de 2010

Com açúcar, com afeto.

Para você, que mesmo sem querer, passou pela minha vida e revirou tudo. Conheceu meus mais íntimos segredos, me amou e não pediu nada em troca. Tirou de mim o que eu nunca daria a ninguém. Obrigado por ter me ensinado o que é amizade, obrigado por ter me ensinado tudo que você tinha pra ensinar.
Eu lutarei. Serei uma formiga em meio a dragões, mas não te abandonarei. Nem por um segundo.

Você é meu farol, meu talismã, meu sol, meu dia, meu dial. Você é meu astral, meu mapa virtual, meu raio-x emocional. Você é minha foz, metade de nós, meu adubo meu sal, você é minha e só e nunca vai ser só, nem de fulano de tal. Quando caminho no escuro é por você que procuro, somando tudo é tão raro, meu paladar e seu faro. Vander lee

Vai minha tristeza,e diz a ela que sem ela não pode ser,diz-lhe, numa prece,Que ela regresse, porque eu não posso Mais sofrer.Chega, de saudade a realidade, É que sem ela não há paz,não há beleza,É só tristeza e a melancolia,Que não sai de mim, não sai de mim, não sai,Mas se ela voltar, se ela voltar,Que coisa linda, que coisa louca.Tom jobim

Eles nos machucaram , quiseram nos separar.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Um dia me chegaram ao pé do ouvido
e me contaram um segredo para além do infinito:
o poeta nada sente
mente,
somente.

domingo, 13 de junho de 2010


quarta-feira, 2 de junho de 2010

O verme e a Estrela - Adriana Calcanhoto

Agora sabes que sou verme
Agora sei da tua luz
Se não notei minha epiderme
É.. nunca estrela eu te supus
Mas se cantar pudesse um verme
Eu cantaria a tua luz!
Se eras assim

Por que não deste
Um raio brando ao teu viver?
Não te lembrava
Azul-celeste
O céu talvez, não pode ser
Mas, ora.. enfim, por que não deste
Somente um raio ao teu viver?
Olho e examino minha epiderme

Olho e não vejo a tua luz!
Vamos que sou, talvez, um verme
Estrela nunca eu te supus!
Olho e examino minha epiderme

Ceguei ceguei da tua luz!

Adriana Calcanhoto

domingo, 23 de maio de 2010

Por dentre as montanhas,
Numa terra de árvores frondosas
Águas claras e flores singelas,
Lá longe, nas raízes da poesia
Nasce minha alma e a fantasia.

Por dentre a escuridão,
Numa terra de criaturas pavorosas
Banhada pelas negras águas do silêncio
Aqui perto, nas raízes da solidão,
Nasce meu corpo e meu coração.

Finjo fazer disso tudo uma junção
Mas na verdade sigo a levar meus versos
Para meu pecaminoso caminho de traição:
Sou poeta de mentira.

Versos soltos

Não tenho nada.
Não sou nada.
Minha vida é vã.
Talvez eu nem chegue a ser.
E caso seja,
Não vivo minha essência,
Não gozo de minha existência.
Mas o que mais posso querer?
Só quis ter as palavras como companhia,
Escolhi viver para a poesia.

Versos soltos

Não tenho nada.
Não sou nada.
Minha vida é vã.
Talvez eu nem chegue a ser.
E caso seja,
Não vivo minha essência,
Não gozo de minha existência.
Mas o que mais posso querer?
Só quis ter as palavras como companhia,
Escolhi viver para a poesia.

sábado, 8 de maio de 2010

Fernando Pessoa(Poesias de Álvaro de Campos)

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, 21/10/1935

domingo, 2 de maio de 2010

Amar! - Florbela Espanca

Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

Florbela Espanca.

domingo, 25 de abril de 2010

Se poeta é aquele que faz poesia, logo não sou poeta, tampouco poetisa. A poesia é que me faz.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

domingo, 18 de abril de 2010

Ilha das flores - Jorge furtado

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Agora tu vês que sou lixo,
Que sou inútil
Que sou resto de homem
Sigo errante pela vida,
Por que ainda vens atrás de mim?
Vai-te deusa dos meus sonhos nus!
Segue-te no teu caminho, cumpre tua sina de iluminar os homens bons!
Corras atrás de quem reconheça teu brilho celestial!
Vai-te pequena princesa angelical,
Vai-te criança, não me acompanhes
Tu és completa, tu és perfeita,
Enxerga com teus olhos que brilham de inocência:
Não vês que sou homem coxo?

domingo, 11 de abril de 2010

Sonhos,

Esses fazem o corpo buscar, a alma crescer. Por toda a vida sonho como as crianças fazem... Sonho com desejos atrevidos, com coisas improváveis. Sonho com os olhos abertos, olhos fechados. Às vezes me entrego completamente ao sonho que passo a acreditar que se tornou realidade, assim como os mentirosos fazem de sua mentira a sua verdade. Sonhar não é pecado, não é ruim, não é malvado. Não devemos nos sentir culpados quando os sonhos arrancam de nós os desejos mais escondidos, e nos fazem gostar de sonhar com o proibido. Sonho sonhos que vão além do céu, além da terra, além do tudo, além do nada, vão e transgridem qualquer realidade que me prenda ao que não quero ver e a qualquer monotonia que a vida possa ter. Logo depois, se dissolvem e me fazem descer de um paraíso e dou de cara com a verdade. Verdade essa muitas vezes estupenda, que me dói, me faz cair, mas logo me ponho de pé, e então estou pronta para de novo poder sonhar.

Sara Meynard.

domingo, 28 de março de 2010

Nessa solidão,
Meu corpo clama por liberdade
Minha dor sussurra em meus ouvidos
Dentro de minh’alma, o pranto arde
E a tristeza resplandece.
Agora sou como escrava
Tornei-me prisioneira do meu próprio ser.

E esse isolamento me tortura,
O silêncio faz tornar ainda maiores as minhas mágoas
E corrói-me, fazendo-me extinguir
Desaparecer por completo
Sem deixar rastro, sem ninguém perceber

A censura
Faz-me sentir como incompleta
Falta a mim o grito, que é direito de todo ser
E a companhia,

que é necessária a todo ser que realmente é.
Poesia

é

antônimo

de
censura.
E o poeta pensou e transcreveu seus pensamentos, com auxílio das mãos de poeta, para a folha de papel em branco. Depois de alguns instantes, aquela simples folha de papel passara a ter muito valor não só para o poeta, mas como para o mundo que leria seus versos que transmitiam seus mais íntimos pensamentos.
Mas então veio um forte vento invadindo seu quarto de poeta, que teve o poder de destruição tão grande quanto de um furacão, quando furtou do poeta sua poesia, carregou-a contigo sem nem pedir permissão. E junto com o vento foram-se os pensamentos do poeta, seus versos, suas rimas, seus sentimentos, os quais ele entregara à folha de papel. Simples assim, foram-se, para nunca mais voltar.

Maldito vento. Maldita folha de papel. Maldita falta de memória.

Memórias Possíveis ( fragmento)

‘’Naquela manhã, como em muitas manhãs já não aconteciam, fiquei a sonhar, absorvia-me em pensamentos vagos, de olhos abertos... Lembrava de você. Sentia uma leve saudade, que me tocava tão suavemente como aquela brisa matinal de março.
Lembrei de tantas coisas, coisas que nem mesmo chegaram a acontecer. Mas nem valia a pena me pôr triste, somente devaneada.
Que paz você me trouxe naquele dia, uma sensação tão simples, mas que pra mim fez-se dar tanto valor! E eu sorri como há muito já não sorria, sorriso de criança, singelo, sincero, os olhos brilhavam, meu coração enfim lembrava-se de como te amava!
Embriaguei-me em banhos de felicidade, que se duraram muito mais do que aqueles poucos minutos... ’’[...]
Asas à imaginação:
Vamos fazer silêncio e pôr as mãos a rabiscar os pensamentos.

Mas desespero-me,
Percebo então que a poesia anda fugindo de mim.
Dificuldade,
Procuro por todos os lugares
Mas não encontro meus versos.
Dúvida,
Será que a mim falta capacidade para preencher a folha em branco?

Essa folha agora me assusta, com todo seu espaço a ser ocupado pelas palavras
E eu com minha cabeça vazia de idéias.
Será que a mim falta libertar a imaginação e deixá-la a voar?

sábado, 20 de março de 2010

Tristeza

Sufoca-me, aperta, machuca. A tristeza parece que não vai mais acabar, me acerca, me derruba, me cala. Deixa-me sem rumo, sem direção, sem vontade de existir. Sentimento ruim esse, que não dá lugar pra felicidade passar. Os olhos ficam tão molhados quando ela está presente, que é inevitável não lacrimejar melancolia, não deixar-me abater pelo pranto sem fim, não cair e deixar corpo agonizar. Infundo tristeza sim, derramo minhas lágrimas sem vergonha de mostrar-me tão fraca. Creio que nunca me deixei ficar tão triste como agora estou, cercada de ódio, de rancor, de dor. Que calam meu peito e apodrecem minha alma, me fizeram parar até de pensar.
Felicidade essa que não vem calar a tristeza que deixa um coração a morrer de dor. Não me visita há algum tempo essa tal de felicidade que pareço agora jamais ter conhecido.
Mas todo mundo fica mesmo triste um dia.

sexta-feira, 5 de março de 2010

E,como não poderia deixar de ser, Clarice Lispector:

Águas do Mundo
Aí está ele, o mar, o mais ininteligível das existências não humanas. E aqui está a mulher, de pé na praia, o mais ininteligível dos seres vivos. Como o ser humano fez um dia uma pergunta sobre si mesmo, tornou-se o mais ininteligível dos seres vivos. Ela e o mar.

Só poderia haver um encontro de seus mistérios se um se entregasse ao outro: a entrega de dois mundos incognoscíveis feita com a confiança com que se entregariam duas compreensões.
Ela olha o mar, é o que se pode fazer. Ele só lhe é delimitado pela linha do horizonte, isto é, pela sua incapacidade humana de ver a curvatura da terra.
São seis horas da manhã. Só um cão livre hesita na praia, um cão negro. Por que é que um cão é tão livre? Porquê ele é o mistério vivo que não se indaga. A mulher hesita porque vai entrar.
Seu corpo se consola com sua própria exigüidade em relação a vastidão do mar porque é a exigüidade do corpo que o permite manter-se quente e é essa exigüidade que a torna livre gente, com sua parte de liberdade de cão nas areias. Esse corpo entrará no ilimitado frio que sem raiva ruge no silêncio das seis horas. A mulher não está sabendo: mas está cumprindo uma coragem. Com a praia vazia nessa hora da manhã, ela não têm o exemplo de outros humanos que transformam a entrada no amr em simples jogo leviano de viver. Ela está sozinha. O mar salgado não é sozinho porque é salgado e grande, e isso é uma realização. Nessa hora ela se conhece menos ainda do que conhece o mar. Sua coragem é a de , não se conhecendo, no entanto prosseguir. É fatal não se conhecer, e não se conhecer exige coragem.
Vai entrando. A água salgada é de um frio que lhe arrepia em ritual as pernas. Mas uma alegria fatal – a alegria é uma fatalidade – já a tomou, embora nem lhe ocorrera sorrir. Pelo contrário, está muito séria. O cheiro é de uma maresia tonteante que a desperta de seus mais adormecidos sonos seculares. E agora ela está alerta, mesmo sem pensar, como um caçador está alerta, mesmo sem pensar. A mulher é agora uma compacta e uma leve e uma aguda- e abre caminho na gelidez que, líquida, se opõe a ela, e no entanto a deixa entrar, como no amor em que a oposição pode ser um pedido.
O caminho lento aumenta as coragem secreta. E de repente ela se deixa cobrir pela primeira onda. O sal, o iodo, tudo líquido, deixam-na por uns instantes cega, toda escorrendo- espantada de pé, fertilizada.
Agora o frio se transformou em frígido. Avançando, ela sobre o mar pelo meio. Já não precisa da coragem, agora já é antiga no ritual. Abaixa a cabeça dentro do brilho do mar e retira uma cabeleira que sai escorrendo toda sobre os olhos salgados que ardem. Brinca com a mão na água, pausada, os cabelos ao sol quase imediatamente já estão endurecendo de sal. Com a concha das mãos faz o que sempre fez no mar, e com altivez dos que nunca darão explicação nem a eles mesmos: com a concha das mãos cheia de água, bebe em goles grandes, bons.
E era isso o que estava lhe faltando: o mar por dentro como o líquido espesso de um homem. Agora está toda igual a si mesma. A garganta alimentada se constringe com o sal, os olhos avermelham-se pelo sal secado pelo sol, as ondas suaves lhe batem e voltam pois ela é um anteparo compacto.
Mergulha de novo, de novo bebe mais água, agora sem sofreguidão pois não precisa mais. Ela é a amante que sabe que terá tudo de novo. O sol se abre mais e arrepia-a ao secá-la, ela mergulha de novo: está cada vez menos sôfrega e menos aguda. Agora sabe o que quer. Quer ficar de pé parada no mar. Assim fica pois. Como contra os costados de um navio, a água bate, volta, bate. A mulher não recebe transmissões. Não precisa de comunicação.
Depois caminha dentro da água de volta à praia. Não está caminhando sobre as águas- ah, nunca faria isso depois que há milênios já andaram sobre as águas- mas ninguém lhe tira isso: caminhar dentro das águas. Às vezes o mar lhe impõe resistência puxando-a com força para trás, mas então a proa da mulher avança um pouco mais dura e áspera.
E agora pisa na areia. Sabe que está brilhando de água , e sal e sol. Mesmo que o esqueça daqui a uns minutos, nunca poderá perder tudo isso. E sabe de algum modo obscuro que seus cabelos escorridos são de náufrago. Porque sabe – sabe que fez um perigo. Um perigo tão antigo quanto o ser humano.

Clarice Lispector. In: Felicidade Clandestina

Clarice veio de um mistério.
partiu para outro.
Ficamos sem saber a essência do mistério.
Ou o mistério não era essencial,
era Clarice viajando nele.
Carlos Drummond de Andrade

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Algumas reflexões [em construção]

Poesia não é só palavra.
Palavra não é só palavra.
Pessoa não é só ser humano.
Música não é só pro ouvido ouvir.
Sorrisos não significam felicidade.
Lágrimas não significam tristeza.
Perguntas são mais importantes que respostas.
Nada é totalmente bom ou ruim.
O mundo gira e a gente continua parado.
Tocar não é só apalpar.
Ver não é só enxergar.
A chuva de dezembro cai e a casa vai junto.
Os sabores da vida vão muito além do que o corpo pode provar.
Escute o Silêncio. Ele sempre tem algo a dizer.
Reinvente-se.
Príncipes e Princesas não existem. Até que você se apaixone.
Uma coisa simples se torna grandiosa aos olhos de quem tem sabedoria para apreciá-la.
As pessoas fecham os olhos pro mundo e se assustam ao abrir-los.
...
Todo tempo
As pessoas correm como o vento
Mas não conseguem ser tão leves como tal.
Intrigam-me
Pensam poder voar?
Deslizam
Sobre o concreto
Como cegos a patinar
Os olhos só vêem
Por onde os pés têm que passar
As cabeças, longe dali.
Fogem sem fugir
Do cotidiano,
Da
rotina
Que nem pensam em infringir.
Não consigo descrever

O silêncio que o meu corpo faz

E que quer continuar a fazer

Pois o silêncio,esse não se pode ler.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Rubros Olhos Teus

Ah, aquele maldito olhar,
Às sete horas da noite
Naquele mesmo bar
Aquele olhar me disse coisas
Que eu queria nunca escutar
Olhava-me homem, como se fosse a ultima vez
Tragava seu cigarro como se divertisse ao me torturar
Aquele olhar me levou pra longe
E me fez esquecer
Que queria cuspir em você
Aquele maldito olhar fez – me respirar
E acreditar naquela mentira vil
Que teus olhos me sussurravam.
Se medo me olhava,
Sem censura, me tragava
E agora sou apenas fumaça.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Eu vi quando você me viu
Seus olhos pousaram nos meus
Num arrepio sutil
Eu vi... pois é, eu reparei
Você me tirou pra dançar
Sem nunca sair do lugar
Sem botar os pés no chão
Sem música pra acompanhar

Foi só por um segundo
Todo o tempo do mundo
E o mundo todo se perdeu

Eu vi quando você me viu
Seus olhos buscaram nos meus
O mesmo pecado febril
Eu vi... pois é, eu reparei
Você me tirou todo o ar
Pra que eu pudesse respirar
Eu sei que ninguém percebeu
Foi só você e eu

Foi só por um segundo
Todo o tempo do mundo
E o mundo todo se perdeu
Ficou só você eu eu

Cupido - Maria Rita Composição: Cláudio Lins

Aqueles que reprimem o desejo assim o fazem porque o seu desejo é fraco o suficiente para ser reprimido.

William Blake

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Você me deixa tão assim,
Ao léu,
Sem sentido, sem direção
Esperarei agora o tempo passar
As águas de março vêm curar
A ferida aberta que você deixou
A dúvida cruel da qual você ri
A me ver lutar para resolver.
Sei que tudo é improvável
E até mesmo impossível
Esse sentimento, que não sei ao certo o que é
Vai se perdendo, se afastando de nós, se esvaindo
Nos caminhos do coração de outros.
É bom tentar te entender,
Porém, te conhecer é uma coisa
Que sinto dizer,

Mas não irá acontecer.
Sinto falta
Daqueles dias confusos
Em que me encontrei defronte
Aos grandes desafios internos
Que a vida nos propõe
Daqueles dias que duvidei de mim
Que odiei tantas pessoas vis
Aqueles dias que a mim agora virão a fazer falta
Deixando um vazio
Em minh'alma.
Saudades das conversas fiadas,
Dos risos, das gargalhadas,
Dos choros, do desespero,
Dos erros, dos gritos
Das bagunças, das alegrias
Das amizades, do medo que senti
De tudo isso,
Essas coisas que me possuíram por inteiro.
Agora sei que as coisas jamais serão como antes
Tampouco parecidas.
Assim sinto falta dos tempos que ficaram pra trás
Daqueles mesmos de que me queixei.
Devaneios me envolvem,
Tenho medo do vazio, do desconhecido, do impossível.
Agora me restam lacunas a serem preenchidas,
Nesse silêncio
Que me corrói.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Não me toques
Não me beijes
Não me açores
Apenas deixes-me
E vá
Como o pássaro voa
Como a fumaça desvanece
Como a água corre
Como o sol esconde
Sem olhar pra trás
Tampouco se lembre de mim
Não sintas falta de nós
Sintas uma leve saudade apenas.
Se quiseres rir, rias
Se desejares chorar, chores
Se de meu rosto esquecer
Não se preocupe
É melhor assim.

Abiose

Sinto meus membros
Desmembrados,
Minha voz
Ausente se fez
Sinto minha cabeça
Exaurida
Meus pés gastos
De tanto percorrer
O caminho incerto
Da minha sina
Meu corpo gasto
Pelo cansaço
De uma mente
Que não sabe se faz
O que condiz com o que é.


2009

domingo, 17 de janeiro de 2010

Por dentre essas montanhas, morros,
Deveria haver rios de águas límpidas correndo
Árvores crescendo,
Animais vivendo.
Mas ao invés disso, o que existe são barracos, buracos
Lixo e podridão
Que invadem a paisagem
Ruas estreitas, ruelas, becos, que levam a lugares incertos
De forma insegura
Em que vivem pessoas excluídas da sociedade
Que parecem ser invisíveis aos olhares cruéis
Despreocupados e desinteressados
Do restante da cidade
Um lugar em que a violência
Aparenta ser a única maneira
De sair, fugir, dessa dura realidade
Que aperta e sufoca
Mata e destrói
Sacrifica, machuca, corrói.

Se um dia eu partir ,
Sem avisar nem ligar,
Não se preocupe meu bem,
Se não voltar logo
Prometo mandar-te notícias
E com você sempre sonhar.
Talvez até ouças falar de mim
Você sabe que sou imprevisível
Não se culpe,
Mas se tiveres raiva de mim, entenderei.
Mas lembra-te que sou como um pássaro,
Que nunca em uma gaiola gostaria de viver
E estarei sempre a migrar,
Para onde o clima melhor estiver.
Por que tu não tomas coragem
Larga de bobagem
Esquece a realidade,
E vem me dizer
Em segredo
Sem medo
O que até hoje só li?
Nessas suas páginas negras
Que não me assustam,
Somente me encantam
Por onde suas palavras me embaiam?

Não perca tempo
Venha logo correndo
Dizer o que tem sentido
Por mim
Confessar-me teus delírios
Bem ao pé do ouvido
Com seu jeito sorrateiro
De menino arteiro que és
E com sua poesia
Bem na ponta da língua.

Mas seja rápido meu bem
Pois o tempo corre
E de você,
Não tenho piedade.
Esse brilho que tu tens nos olhos
Quando me lanças um olhar inocente
Essa cara que tu fazes quando meu corpo deseja
O jeito que tuas mãos bailam sobre meu corpo
A maneira como teus lábios tocam nos meus
Essa mania que tu tens de querer repousar tua cabeça em minhas pernas
E de dizer que me amas
Atraem-me.

Esse jeito que me olhas
Esse mistério que tu deixas no ar

O jeito como faz-me de ti querer provar
A raiva que tenho por não conseguir decifrar-te
E por tão pouco conhecer-te
Esse gostinho de proibido que tu tens
Deliciam-me.
Ele chegava seu corpo
Junto ao dela
E sentia seu cheiro doce
Seu cheiro de pureza
Que lutava
Desesperadamente
Incansavelmente
Contra o cheiro podre
Cheiro de malícia.
E ele buscava nela o refugio
Para o pecado que perpetrava ali.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

É tudo culpa dos olhos

Meus olhos penetravam
Em seus pensamentos
Tentavam decifrar os seus sentimentos
Mas fugiam
Julgavam-se culpados
Como criminosos
Mas logo voltavam
Não resistiam
E se surpreendiam
Ao encontrar
Outro par de olhos
Que correspondiam
Espantavam-se
Mas ao fundo se divertiam e se deliciavam
Como quem desfruta de um pecado saboroso
Mas não quer ser descoberto.