quarta-feira, 28 de dezembro de 2011


acho essência
na minha vivência:
reminiscência.

Avessa ( o )


Parecia que aquela seria mais uma das noites em que se vai dormir com quase quatro mil coisas na cabeça. Deitei-me ainda cedo, com o objetivo que o sono fosse mais proveitoso do que enfrentar a madrugada fria.
Aquilo já era de costume, os sons dos carros e motos na avenida invadindo o meu quarto me embalavam e me faziam companhia. As luzes penetravam inquietas pelas grades da janela, fazendo com que minha escuridão fosse menor. Todo aquele barulho me fazia sentir mais em casa do que se eu estivesse no silêncio de mim. Talvez fosse medo; ou covardia. Mas é que depois de tantas feridas o corpo quer é sossego. Mesmo que eu fosse covarde e me tendesse para as pessoas, aquilo era muito mais forte, era conforto.
Mas não importava o meu conforto; as feridas ainda estavam lá, mesmo que não ousasse nem pronunciá-las. Ignorei. Segurei o ar com uma das mãos, e movi a outra misteriosamente, como se não soubesse onde fosse parar, até que as duas se encontraram e se visitaram por dentro. Meu próprio calor me aquecia, o corpo se repartia em dois, transformando a solidão em duas, que se ligavam. Que fosse só um disfarce, não importava.
Quando criei coragem para fechar os olhos e ver todos aqueles pesos, e minhas pálpebras começaram a se fechar na mesma lentidão do pôr do sol, com todos os raios indo embora, o corpo se preparando para a noite, a vida recuando como se tivesse medo, nada veio. Eu até me assustei, mas já cansada, achei agradável e afundei na cama com o a força de um lutador.
Foi quando ela entrou. A porta do quarto se abriu devagar, e embora nenhum feixe de luz a acompanhasse, via sua silhueta claramente. Eu poderia falar que fiquei com medo, mas a verdade é que eu não reconhecia perigo em uma companhia para a noite. Mesmo que fosse estrangeira; eu não poderia saber o motivo de temer aquilo, era estranho demais para mim.
Meus olhos no começo se arregalaram; mas logo foram se fechando, à medida que ela ia chegando mais perto, e era tudo tão devagar que parecia ter todo tempo do mundo. Ao contrário dos dias corridos que se passavam em sufoco, naquela noite os acontecimentos foram se entrelaçando de maneira tão lenta, que era possível ver e sentir todos os fios soltos, e todos os fios que se uniam na construção do que agora narro nesse conto póstumo. Póstumo sim, pois alguma coisa morreu aquela noite.
Meus lençóis eram brancos, mas eu juro que acordaram vermelhos. Não me lembro em momento algum de haver sangue; nem dor. Pelo contrário, era uma paz tão grande que eu fechei mesmo os olhos- mas tenho certeza que não dormi, pois os abria sempre – e até comecei a gargalhar de prazer com aquela coisa se movendo em meu quarto.
A sombra dançava; os pés esticavam e encurvavam; tinha a habilidade de uma bailarina. Não me lembro que roupa usava, e nem se usava. Mas ela veio e se sentou ao meu lado. Agarrou minhas mãos, e as segurou assim como estavam: juntas. E sem falar nada, veio me pegando, me passando, me aninhando, com o mesmo calor do ventre materno e o mesmo prazer das mais fieis ou infiéis amantes.
Eu não pensei muito aquela noite. Na verdade não pensei nada. Por isso não tive medo da respiração pesada no meu ouvido, das mãos que me rodeavam. E não deveria mesmo ter. Era tudo o que eu esperava, meu avesso estava ali: e me segurando, apalpou meus arranhões, minhas marcas, meus vermelhões, roxos e tudo mais que um dia houvera me ferido .
Só sentia minhas gargalhadas agora. Gargalhávamos juntas. Aquela sombra e eu. Rindo alto da vida que passava, do tempo indecoroso, das ruas inacessíveis, das roupas desnecessárias... era tudo e muito mais. Era eu, e o avesso. A avessa.
Não me lembro quando dormi, e nem sei mesmo se dormi. Sei que quando abri os olhos, estava sozinha de novo. Mas já não me sentia assim. Era como se ela ainda estivesse ali, comigo, como se tivesse se tornado parte de mim. Não; já era parte de mim antes. Eu só a achei.
E no riso fugido da noite, eu acordei ainda com os dentes de fora. A sensação de luto me tomava ao mesmo tempo em que o sol raiava forte. Nunca soube o que morreu aquela noite, e nunca nem procurei saber. Só sei que se perderam na sua inutilidade todas as quatro mil coisas, e eu tinha lençóis novos.

abraço
               sem espaço
                                       façamos um laço

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

" Eu havia de pedir desculpas sobre a esperança. Olhares que pesavam malvas. Esterco fumegante. O sangue escuro como um corte ácido no vaso de uma rês. Tudo me pertubava. E mais abaixo, sobre o estrado da cama, aquele cheiro de sol na boca atormentada de uma fêmea. "

domingo, 27 de novembro de 2011

P A S S E I O S


seus passos
e s p a ç a d o s
invadem espaços
cada vez maiores
pegadas?
ou seriam
asas que tocam o chão
(... )

segunda feira


mas tudo parecia tão bem
que eu já não queria mais saber que dia
[ era ]
o seu dia

e você era mais bonita que um ano todo

mas você foi embora no fim do ano

eu fiquei sem você, e sem o ano



[ e isso é tudo que eu tenho para a próxima segunda feira ]

pés


Feliz fui eu quando meus pés tocaram os seus. Era como uma sensação. 
Os meus meio sujos, procuravam os seus discretamente por baixo dos lençóis, tímidos. Sem te acordar, eles foram como um sussurro...
Surpreendi-me quando te encontrei também descalça, de pés limpos e macios, pés que receberam os meus, na mais completa humildade.


Senti amor no seu-meu toque. E ai nasceu o carinho.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Piano: me amarrar em você...



meus dedos e laços e braços e traços: anzóis
 
 
Notas perdidas,
permitidas
e dadas:
amadas.
dedo a dedo
pé a pé
compasso interminável:
sem barras o sol se prolonga...
pausa
eu mi bemol
e ritornello.
calma calma... que a vida não tem pressa


a gente que acelera

e se afoga... se afoga...

nada !

 
 
...
 
 
nada: o vácuo é o explendor do ser.

sábado, 8 de outubro de 2011

De pés descalços


Talvez se fizesse se sentiria livre por completo. Pois de meio em meio, as roupas se foram. Mas os pés, esses continuavam sufocados e cansados. Dentro de um sufoco que era transmitido para todo o corpo, em uma energia vertical, que ia para cima, e voltava para baixo. O ciclo não podia se concretizar, os sapatos barravam.
Mas demorara muito a reconhecer. Isso parece óbvio para você, pois agora eu já te contei que não se podem adentrar mundos de sapatos. Mas ninguém havia contado a ela. Ela era ignorante a isso. Ignorante a qualquer liberdade. Nem conhecia sensação.
Era quase um erro: tirar os sapatos. Encarar os pés, reconhecê-los, deixá-los fazer qualquer coisa não presa. Era por partes. Pois ainda não havia tirado os sapatos.
Foi quando ela sacudiu os pés, movimentos rápidos, como se fosse proibido, sacudindo, com pressa, com raiva, decidida, então os sapatos se foram, então descansou.
Sentiu o chão gelado: era uma realidade que a jogava para cima, promissora. E podia, sentindo o chão, voar.  
Era como pousar em uma brisa. Era mais que isso: voar de pé no chão. E só foi possível graças aos sapatos tirados. E ela que já andava sem roupas pela vida, ainda não havia sentido tal leveza. Era seminua. Na verdade, era nada nua. Uma nudez experimental; que não se concretizava nunca. Ou não se abstraia. Era algo como que não voasse; como que não fosse; como que mentira. Incompletude.
Achava certo sair por ai de sapatos. Talvez por achar que os pés são partes menos importantes. Como os pés podem ser desimportantes para alguém que não tem asas?
Ia passar a vida à procura das tais asas para alcançar vôo. Ela que não sabia que para voar não precisa de asas. Não sabia que voar não precisa de ter, precisa é ser.
 

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A palavra é meu oxigênio 

Tudo o que eu falo vem de uma palavra maior,
Que se desassocia de sentido comum.
Nem a fala escapou:
a poesia me tomou.
( mas era eu quem tinha sede )

domingo, 25 de setembro de 2011

Um passarinho cagou em mim.


Da sua obra natural eu fiz uma construção:

Peguei o lápis

E edifiquei um poema.

No meu ouvido, você sussurrou um segredo:


Meu amor, não tenha medo,

na vida ninguém tem sossego.

Ideia:


Uma lâmpada acendeu.

Veio mosquito e pousou.

Ih, apagou.

O mosquito também voou.

Ai se fôssemos o que pensássemos...


estaríamos perdidos

e medíocres.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Uma vez eu pensei em virar coisa.
Eu fiz coisas que as coisas fazem:
me dobrei, me virei, me guardei.
Despensada estava.
Cheguei bem perto de ser uma folha em branco.
Mas aí eu percebi:
ser pessoa pra mim não tme saída.
Apaga o traço.

Não dá:

a caneta e o papel fizeram um laço.
                    Brisa:     
                                                                  um fio de vento encostou em  mim.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Eu pedi a palavra que viesse em mim.

Ela fez que sol e me iluminou.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

flor latente 
               o     sol     é       p  o  e  n  t  e

          no meio de tanta gente,
                                                       
                                                             o que se diz ?

                                                                                                          o que se entende ?

domingo, 4 de setembro de 2011


estou de volta
                                                         sem moda
                                                                                                
                                                                                                         tudo volta

Domingo não é um bom dia.


O que seriam das mãos calejadas se não trabalhassem tanto?
Segunda não é um bom dia.
Ah, a mão é só a estética, o interior que influencia.
Tudo que se estende pode ser limitado,
Limitação,
O corpo é o ser desprezado,
No chão?
Nem sempre.
Sexta não é um bom dia.
Espera que já vem a resposta.
Espera?
É o que se tem na sonolência do dia-a-dia.
A lentidão do tempo passa.
Domingo não é um bom dia.
O que se espera é o que já se calou,
No grito da boca surda
muda
e cega.
O vento que sopra é o mesmo que volta.
E a quem queremos enganar?
São os ventos os verdadeiros escultores da vida.
O tempo que passa é nada.
Nada é o que se passa,
Se é o que deixamos passar.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O gato



  Ele me avistou, de longe. Mas eu não o vi. As lágrimas escorriam, e andei cambaleando até a porta. Abri. Não consegui entrar, cai no chão, e de lá o avistei – os olhos grandes me olhavam, sem precisar me chamar – já tinha minha permissão de se aproximar, veio até mim. Era como um abraço. Fez carinho.
  Fazia tempo que não conversávamos, andávamos meio estressados, sozinhos. Mas assim mesmo, ele fez como nos dias de dor dele, em que eu fazia carinho, e dizia que não entendia, mas estava ali e ia passar. Ele, forte, sempre resistiu às dores. E elas passavam mesmo. Mas ele sabia da minha dor, não era preciso dizer. Desde que me avistou, sabia do tamanho da minha dor. Ele também não entendia, e era quase como se dissesse: estou aqui e via passar.
  Em pranto, deitei-me no chão. Ele ficou comigo, me rodeando, fazendo carinho, desde a cabeça, até meus pés. Doía, doía muito. Era como se tivessem arrancado um pedaço de mim. Era como se desistisse do maior dos sonhos.
  Falei um pouco, conversamos. Ele meio calado, estava ali para ouvir. Ele só foi embora quando viu que eu já podia me levantar. Entrou em casa, e quase disse: - Vamos, levante-se! Obedeci. Devagar – ainda sentindo a dor -, levantei. Fechada a porta, ele se aproximou, a sala escura. Eu, no chão novamente. De tanto carinho, peguei-o no colo, abraçando-o, como um filho. Mas eu era o filhote ali. Fechou os olhos e entregou sua paz para mim, dando tudo.
  Era o mais fiel. Disse isso para ele, fazendo carinho em suas mãozinhas peludas. Eu não tinha nojo de seu sujo, e nem ele do meu. Dividíamos nossos ruins.
  Ele reclamou de fome, eu também. Então fomos comer, cada qual seguindo seu rumo, indo deitar na sua cama. Chegávamos da noite, cansados da vida, mas ainda tínhamos um ao outro.

quarta-feira, 27 de julho de 2011


Meu eu está insuportável,
Insustentável.
Isso faz com que minhas borboletas desassosseguem.
Hoje mais duas fugiram de mim.
Não gosto de perder minhas borboletas.
Agora tenho um vácuo.
Ter um vácuo dói.
Mas não tem remédio para vácuo.
Estou me completando com palavra.
Depois de muita palavra,
as borboletas vão querer brincar.
Vai dar cosquinha,
e eu vou rir.
Então vou voltar a ter borboletas e ainda terei palavras:
Borboletas e palavras é uma combinação ótima.
Minha solidão me provoca.
parece coisa que não acaba mais:
cada dia fica maior.
É como um balão,
se enchendo de vazio...
enchendo,enchendo,enchendo...
Será que quando estourar sai alguma coisa pra acabar com meu sozinho?


Enquanto eu não consigo pintar minha realidade com cor de sonho,
Eu vou dormir pra poder misturar as tintas.

Ela queria entrar no mundo. Porque se sentia muito fora dele. Sentia necessidade de fecundá-lo. Mas para fecundar o mundo não podia ir devagar, não tinha chance de teste. Para fecundar o mundo precisa ter coragem.
Então ela tinha que ficar maior.
Voltar.
Ficou primitiva: tirou a roupa e se entregou ao natural. Ao sol.
E o sol a empurrou.
Ela foi como mulher e mergulhou, fecundou o mundo. Mesmo o mundo sendo maior, ela não teve medo.
No que ela foi, se perdeu no que se diz de corpo. Virou coisa maior. Maior que ela mesma, não se coube. Mas coube no mundo, que a fecundou também.

domingo, 17 de julho de 2011

Coisa de viver.

  E mesmo que eu pense até a cabeça adoidá, que eu olhe pro lado, e até que eu ache tudo muito engraçado... vai ser sempre isso ai.


  A vida é mesmo essa coisa esquisita, fica encravada na gente, por todo canto. A gente mexe, remexe, tentando se acostumar. Às vezes acomoda, e a gente até começa a achar bom. Mas daí incomoda, a gente vira coisa pequena e quer sumir. Tem gente que fica querendo desencravar a vida do peito que arde. Tem gente que é indiferente, nem sente nada (será que é gente mesmo?). Tem gente que vai levando, e fica num jogo que aquietá, desinquietá.

  Mas vai ser sempre isso ai mesmo. Um dia a gente vai se acostumá.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

  Ela, mulher. Ele, homem. Ela, como mulher, cumpria o papel que lhe fora concedido. E talvez até mesmo confiado. Ele crescia cada dia mais, tentando alcançar o estado de homem.


  Ela, maior que ele, cobria-o com seu manto cor de vinho, abrigando-o. Era como um pássaro, uma mãe-pássaro, que voava e sempre ia voar, acompanhando-o. Um espetáculo fascinante.

  Ele, ainda menino. Sempre menino, mesmo que desejasse tender para homem. Ela, ainda mulher. Sempre mulher. Ela precisava de filhote para se sentir mãe, ele precisava de vôo para se sentir homem.

  Às vezes soava engraçado, todo riam, e felizes, falavam com gosto. E se a natureza era perfeita, quem poderia dizer que eles não eram?

  ...

  Mas nem sempre a perfeição sacia. E é aí que entra o bicho homem.

sábado, 9 de julho de 2011

texto completo.


Se pelas sombras nada via, o que eu podia querer mais?
Na verdade, era tudo muito simples. Bastava abrir os olhos, bastava parar e sentir. Mais simples que o simples. Por isso, incomum.
Eu me desfazia como coisa e me remontava como pessoa.
Por mais que o espaço fosse pequeno, era meu. E isso o tornava grande. O que me confortava é que podia, quando quisesse, ultrapassá-lo.
Eu era forma de não sei o quê. E era tão bom ter poder. Ter querer.
Não me lembrava muito bem do que tinha acontecido. Sei que podia. Tinha liberdade de.
Mas as linhas me diziam por onde ir. Mais do que loucura, era realidade. As letras ligavam-se. Vida-letra. Era o que eu tinha. E estava satisfeita, pois era completo (a).
Não pensava no que se precisava e sim no que se queria. Afinal, livre. E sentia que tinha acabado, e por isso acabou.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Aplausos. ( Humano-ser)

Silêncio, escuro, luz focada no ator, que está no centro do palco, de cabeça baixa e olhos fechados.


Pedro abre os olhos e olha pra a platéia.

- Tudo o que fizeram comigo ficou. Ficou marcado e pendurado em mim. Já o que eu fiz... bom, o que eu fiz não importa. Passou. Não se importaram no dia em que eu chorei, tampouco no dia em que eu sorri... O que diminuiu meu sorriso.

Ele pega um espelho, e dirige ao rosto, devagar.

- Olho meu rosto no espelho, à procura de traços. Traços de mim.

Joga o espelho no chão, mas sem muita força.

- Não vejo!

Agacha-se, e continua caminhando, olhando para a platéia ás vezes.

- Mas mesmo não vendo, gosto de olhar... Permaneço á espreita, observo um mundo decadente. Mas o que eu mudo dizendo essas coisas? Eu, mudo. Ah, bobagem! Ninguém me ouve. Sou só mais um eu em busca do seu eu! É certo, tento encontrar-me, sim. Mas mais que isso busco a verdade. A verdade iluminada no meio do lixo do homem. Homem, lixo. Lixo! (encara a platéia)

- Mas o que se espera, afinal? (risos). Por Deus! Somos tão medíocres! Tão covardes!Tão, tão...nada. E Deus? Bom, Deus... prefiro não falar disso agora.

- e quer saber? Que batam na minha cara!(se bate no rosto) Vamos ver! Eu, como homem, assumo que mereço apanhar!

-até continuar a arrasta-me pelas ruas...como um rato. Até os ratos são mais dignos! A natureza, tamanha perfeição, seguiria seu destino normalmente. Não fosse o homo, mísero, que necessita de provar sua superioridade. Animais! É até um elogio!

(Anda pelo palco)

- O que importa de verdade é que eu estou aqui. (bate no peito, já parado) Ou talvez não importe nada...Vaguei por muito tempo. Tempo demais. Perdido no escuro... mas voltei. Voltei com esperanças de nunca mais partir.

- Afinal, sou ser. Humano-ser.

Luzes se apagam.

De cor.

  Moro em uma casa sem cor. Nunca sue dizer a cor da minha casa e também nunca quis saber. É que no mundo tem muita cor. Tanta cor que o homem jamais conseguirá nomear todas elas- sim, pois cada elemento da natureza, cada detalhe, forma uma nova cor. Muitas não são perceptíveis aos nossos olhos- e se conseguir, porque o homem tem essa mania de dar nome as coisas, não saberá ensiná-las às crianças, e nem gravar todo os nomes. A ambição do homem ultrapassa sua capacidade. Então temos as variações. Variações e instabilidades de azul, verde, amarelo, vermelho, preto e branco. É isso: moro em uma casa cor de variações e instabilidades.


  Queria mesmo é ter uma casa vermelha e azul. Assim, coisa bem bonita, e ai as pessoas iam parar pra olhar minhas cores e minhas cores iam mudar o dia dessas pessoas. Colorindo-os de vermelho e azul. Mas vermelho e azul bem fortes, como nos filmes de Almodóvar. “ Cores de Almodóvar”- disse bem Adriana Calcanhotto.

  Não que as minhas paredes com manchas de umidade me incomodassem. Na verdade, já tinha me acostumado com elas. E elas tinham se acostumado comigo. Convivíamos e nos aceitávamos. Eu observando, elas crescendo e tomando formas. Forma de arte. E eu, arte. Eu, arte? Queria.

  Talvez até precisasse. Então eu seria forte como as personagens de Almodóvar. Mulher como a Penélope Cruz, nos filmes vermelhos e azuis.

Seria feliz.

Seria feliz?

.

No dia em que Deus se esqueceu da existência,


No dia em que a natureza não quis que o sol nascesse,

O homem correu,

e tentou acender a lâmpada.

Mas o ciclo estava se fechando,

e na decadência,

Enfim o homem não teve o controle.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Eu me perdi,
no que se diz de corpo.

domingo, 26 de junho de 2011

Clarice Lispector, em escrivã por fatalidade.

“Mas eu estou me confundindo toda ou é o caso que é tão enrolado que se eu puder vou desenrolar. As realidades dele são inventadas. Peço desculpa porque além de contar os fatos também adivinho e o que adivinho aqui escrevo, escrivã que sou por fataliddde. Eu adivinho a realidade."

sábado, 25 de junho de 2011

Penso que o ser que me entenderia
é além de centenário;
Já existiu,
já foi,
já fez,
e já passou.
e também já buscou entendimento.
Às vezes eu sorrio para despensar-me.
Queria fugir dos subúrbios de mim.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

E de tanto buscar o entendimento, eu me vazei.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A pele branca envolvida na fumaça branca do quarto branco e sem móveis.


Pelo corredor, ela caminhava, passando as mãos pelas paredes. Ao passar pelo quarto, avistou seu maço de cigarros, e empurrou a porta. Pegou o maço branco, analisando cada detalhe, e enquanto guardava-o na mesma mão que abrigava o charuto, deparou-se com a extrema bagunça do cômodo. Telas, lápis, tintas, cores, canetas se confundiam naquele universo incomum. Como que querendo fugir daquilo, voltou a caminhar pelo corredor.
  Entrou à esquerda, em um quarto igualmente branco a todo o resto da casa. E sem móveis. Acomodou-se à janela de metal, por onde entrava um fio de luz. A mulher acendeu o charuto, e ficou ali, não pensando, esquecendo-se de sua própria existência.
  Acariciava o tempo com movimentos sutis. Acendendo seu charuto doce, soltou um suspiro sem significado (mas não insignificante). Sua alma não se afligia com a solidão. Nem havia por que.
  Incomodada com o sabor do chiclete de canela, cuspiu-o no chão, assim como fazia com os homens que já haviam perdido o gosto.
  De repente, seus não-pensamentos foram invadidos por aflições passadas. Corpos nus invadiam seu universo. Tentando escapar, olhou para o horizonte, desmanchando os prédios que a cercavam.
  Desejava ver e ter mais: abriu a pequena janela, pondo seu rosto para fora. Por uns minutos houve sossego para a casa.
  Mas a aflição voltava a mil. Tremendo, pegou os cigarros em movimentos rápidos e ríspidos, começando a fumar compulsivamente, mais do que de costume.
  Os filtros brancos iam e vinham, mas sem serem manchados por batom: seus lábios não precisavam. Eram perfeitos demais, e compunham o rosto de traços fortes. Tudo emoldurado pelos cabelos nem longos, nem curtos, nem loiros, nem castanhos, nem ruivos, nem lisos, nem cacheados, nem ondulados.
  A pele branca envolvida na fumaça branca do quarto branco e sem móveis. Deu o segundo suspiro. Os corpos nus voltavam. Tudo a puxava para fora de si. O corpo violentava os pensamentos, que acuado, escondia-se. Às vezes ela achava, e o corpo tremia, desejando beber suor. Os cigarros já não saciavam mais. Era necessário ser tocada. Mesmo que friamente. Era corpo. Aguentava?
  A mulher aguentou até que virou lagartixa e subiu pelas paredes.
O fogo do meu suor cumpre com minha carência.
  O sol refletia nas costas negras. Os músculos trabalhavam fielmente, saltando para fora pela força que fazia. As mãos eram grandes e fortes. Suor, suor, suor: estava iluminado. A pele firme não se incomodava com o sol forte.
 Discretamente, eu desviava meu olhar do livro e ficava observando aquela demonstração de poder. Eu, na sombra.
 Os braços de traços profanos carregavam os troncos de madeira, que socavam o chão, amassando a terra. Todo o barulho cessava. Meus pêlos loiros se arrepiavam, aquele corpo negro. Enchia meus pulmões de fumaça, e soltava.
 Retomava então para o livro. O barulho voltava, e não parava nem para secar o suor, que ia pingando na grama verde.
 Eu era só mais uma pessoa na tarde quente de dezembro. Só mais uma pessoa cheia de inexistências. Alguém que há muito temia a própria sombra.
 
  

terça-feira, 14 de junho de 2011

7/0 = 0

  Às vezes fico triste com minha colega Matemática. Estranho saber que sete dividido por zero é zero. Pior: todo número dividido por zero é zero.
 Coisa estranha essa teoria. Quer dizer, se eu tenho sete laranjas e divido para zero pessoas, continuo com sete laranjas. Não entendo.
  E eu nem posso pôr esse meu ponto de vista na prova. É tudo tão exato. Será matemática uma ciência imutável? Não sei. Sei que eu mudaria muita coisa.

  Meus parâmetros matemáticos tombam pra poesia.


quarta-feira, 8 de junho de 2011

Insegura de Mães

Tomo culpa que não são minhas
Às vezes penso em me imitar,
fico insegura de mães.
Meu pessoal me confunde.
No vácuo de mim faço buscas inalcansáveis.
meus cheios e vazios se misturam
balangueio entre opostos
minhas vontades me consomem.
e por alvoroço, meu eu insiste na petulância de ser.

domingo, 5 de junho de 2011

9 - seu número da noite, ela disse. *

  Cega do olho esquerdo, eu não sabia bem o que via. Corria, corria dentro de mim mesma. Meu silêncio ecoava pela sala, ensurdecendo-me. Sentia-me a maior das ignorantes; meu egoísmo me ultrapassava. Tentava cravar minhas unhas no abstrato; na tentativa vã de me saciar: corpo e alma.


  Estava ali, entre túmulos. Com a forte luz, via a inexistência de vida com clareza. Era a única que se movia, e diferenciava-se entre a palidez do meio.

  Fundia-se com conflitos imaginários. Alguns, reais. Mas o que importava? Tudo se confundia. Era cor naquela brancura; expressão reprimida do seco - pelo menos isso, pensava.

  Quieta, ainda tentava agarrar o abstrato. Foi quando se levantou. De súbito, caminhou sem pressa, pelos corpos nus e empilhados, pelos pêlos e cabelos humanos. Sem medo e nem susto, atravessou um caminho entre a morte da sala branca, e abriu a porta marrom, de madeira envelhecida.

  Quando viu, ela estava lá. Levantou-se de um sofá vermelho e caminhou em minha direção. Os cabelos longos, a pele clara, o olhar seguro, convidavam-me. Tinha certeza. Era como encontrar comigo mesma. Rapidamente joguei o concreto na sala, fechei a porta, e sem olhar pra trás, consegui agarrar o que até então fora abstrato.

 
 
* nota : (se perceberem, o foco narrativo está louco)
Sinto cheiro de felicidade.


Sinto-me como uma árvore frutífera:

Renasço nessa essência.

Me completo com as aspirações,

Me encanto como as flores.

Às vezes eu escrevo sem palavras.

Sagrado.

  A sombra cinza sob a parede puramente branca denunciava gestos singelos e seguros. Tudo aquilo algum dia já fora dito ou narrado, mas nunca contido. Em segundos, a mulher estabelecia relações milenares. O som da vida já não importava mais: agora ouvia o divino. Entrava em contato com o divino, mas não conversava.


  Os gestos eram exatos; e as palavras bem medidas, aos sussurros. O corpo obedecia a ordens e ajoelhava. As cosias eram extremamente calculadas e friamente desenvolvidas.

  O cheiro de limpeza escondia o sujo da alma; mas nada era capaz de abalar a segurança daquela mulher. Suas tradições ressoavam pelo assoalho de madeira ancestral. Tudo enrijecia em suas mãos. Ela parecia ter encontrado o que realmente lhe importava, enquanto os dedos passavam rapidamente pelo cordão. Então, era tido como sagrado.

sábado, 4 de junho de 2011

De tão longe de mim, eu me encontrei.

domingo, 29 de maio de 2011

Meu coração anda em descompasso.
Tenho desejo ímpeto de ser.

sábado, 28 de maio de 2011

Coisas do paralelo.

  As pessoas estabelecem relações paralelas umas com as outras, relações que transcendem tempo, espaço, vontade e memória. transcendem sem feri-los.
  Alguns dizem que é coincidência; acho que esses têm medo dessas relações, pois são mais fortes que tudo.
  Nesse paralelo, acontecem diálogos, sensações, percepções, reflexões, que deixam rastros no nosso mundo.(  Não que esse paralelo não seja nosso também.)
  Talvez seja o contrário: vivemos no paralelo e tocamos aqui no físico, pois penso que o paralelo é o mais forte: lá não se tem o mínimo controle e é preciso liberdade.
  Os cheiros, os sonhos, as sensações...são coisas do paralelo. relações lá estabelecidas, nunca serão quebradas.
  Agora sinto que vivo uma experiência literária comigo e talvez com alguém, no paralelo, muito mais do que no físico.
  Isso é tão maravilhoso quanto sabor de criança inventora no fim da tarde.

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Escritores precisam de estado de reformulação.
É quando a mente descansa, mas a alma inquieta e o corpo cansa.
É quando em uma pausa tudo muda na natureza lírica, em velocidade de poesia. Queira o poeta ou não, a poesia é viva por si só.
Mas depois que tudo dorme na aparência, um vento sopra trazendo um novo que sacia.
Está faltando um pedaço;
faltando um pedaço de mim...
um laço,
um amasso,
um traço,
um passo,
um maço...
qualquer aço daquele meu ferro bruto.

Domino minhas verdades.

Não tinha acabado porque eu não via o final.
não o sentia.
Então por isso, não existia.
Ele fazia um sinal divino, mas nem por isso divinava.
Saúdo o mundo com comprimentos cegos e mudos.

Ouro Preto

Ouro Preto é tão bela quanto uma mulher adormecida. As colinas são as curvas, sinuosas, acompanhadas por um fino lençol de casarões antigos, que seguem cada traço, esboçando a mais bela cidade íntima.

domingo, 22 de maio de 2011

Estabeleço relações obliquas ao longo do tempo. Escondo-me debaixo de faixadas também falsas. Pela noite, perco-me em caminhos não traçados.






(Amanheço em camas desinventadas.)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Descobri que meu blog tem N erros de digitação, entre outras coisas. Envolvida na minha preguiça, não vou ficar editando todas as postagens. Mas prometo tentar evitá-los. Desculpas, abraços!

domingo, 15 de maio de 2011

Apito do Trem

Minuuuuuutoo!!!

Passa,

Hora passa,

Dia passa,

Noite passa,

Quando o trem passa.