segunda-feira, 30 de julho de 2012

eu tenho tudo, tudo na língua

 Descamando a poesia minha língua segue. Sinto o grande músculo úmido passar pelas escamas da palavra. Minha língua é sensível e me revela detalhes sobre essas frases que nenhuma outra parte do corpo me revelaria. Ela é sonora: me conta a palavra, me canta a música e decifra a memória.
  Movendo-a lentamente passo por tudo, desde as superfícies brancas até os subúrbios obscuros...passo por regiões quentes e outras mais frias; por pessoas gentes e outras mais vazias; por durezas e coisas macias...sigo. Na poesia não há ninguém que não escreva e ninguém que não escute. O ruído dos versos é ensurdecedor...eles pedem tudo, tudo. Na poesia não há ninguém que não invente e ninguém que não travessia: e caminhos tem aos montes, dentre versos e rimas, existem as pontes...
  - mas o que tanto escreve mulher?
  - eu escrevo o que eu tenho invento o que eu não tenho e num começo dou um pulo e um suspiro de alívio: estou viva, e respiro.