segunda-feira, 27 de junho de 2011

Eu me perdi,
no que se diz de corpo.

domingo, 26 de junho de 2011

Clarice Lispector, em escrivã por fatalidade.

“Mas eu estou me confundindo toda ou é o caso que é tão enrolado que se eu puder vou desenrolar. As realidades dele são inventadas. Peço desculpa porque além de contar os fatos também adivinho e o que adivinho aqui escrevo, escrivã que sou por fataliddde. Eu adivinho a realidade."

sábado, 25 de junho de 2011

Penso que o ser que me entenderia
é além de centenário;
Já existiu,
já foi,
já fez,
e já passou.
e também já buscou entendimento.
Às vezes eu sorrio para despensar-me.
Queria fugir dos subúrbios de mim.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

E de tanto buscar o entendimento, eu me vazei.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A pele branca envolvida na fumaça branca do quarto branco e sem móveis.


Pelo corredor, ela caminhava, passando as mãos pelas paredes. Ao passar pelo quarto, avistou seu maço de cigarros, e empurrou a porta. Pegou o maço branco, analisando cada detalhe, e enquanto guardava-o na mesma mão que abrigava o charuto, deparou-se com a extrema bagunça do cômodo. Telas, lápis, tintas, cores, canetas se confundiam naquele universo incomum. Como que querendo fugir daquilo, voltou a caminhar pelo corredor.
  Entrou à esquerda, em um quarto igualmente branco a todo o resto da casa. E sem móveis. Acomodou-se à janela de metal, por onde entrava um fio de luz. A mulher acendeu o charuto, e ficou ali, não pensando, esquecendo-se de sua própria existência.
  Acariciava o tempo com movimentos sutis. Acendendo seu charuto doce, soltou um suspiro sem significado (mas não insignificante). Sua alma não se afligia com a solidão. Nem havia por que.
  Incomodada com o sabor do chiclete de canela, cuspiu-o no chão, assim como fazia com os homens que já haviam perdido o gosto.
  De repente, seus não-pensamentos foram invadidos por aflições passadas. Corpos nus invadiam seu universo. Tentando escapar, olhou para o horizonte, desmanchando os prédios que a cercavam.
  Desejava ver e ter mais: abriu a pequena janela, pondo seu rosto para fora. Por uns minutos houve sossego para a casa.
  Mas a aflição voltava a mil. Tremendo, pegou os cigarros em movimentos rápidos e ríspidos, começando a fumar compulsivamente, mais do que de costume.
  Os filtros brancos iam e vinham, mas sem serem manchados por batom: seus lábios não precisavam. Eram perfeitos demais, e compunham o rosto de traços fortes. Tudo emoldurado pelos cabelos nem longos, nem curtos, nem loiros, nem castanhos, nem ruivos, nem lisos, nem cacheados, nem ondulados.
  A pele branca envolvida na fumaça branca do quarto branco e sem móveis. Deu o segundo suspiro. Os corpos nus voltavam. Tudo a puxava para fora de si. O corpo violentava os pensamentos, que acuado, escondia-se. Às vezes ela achava, e o corpo tremia, desejando beber suor. Os cigarros já não saciavam mais. Era necessário ser tocada. Mesmo que friamente. Era corpo. Aguentava?
  A mulher aguentou até que virou lagartixa e subiu pelas paredes.
O fogo do meu suor cumpre com minha carência.