sábado, 30 de outubro de 2010

Olhando-a ali nas prateleiras, vendo como muitos a amavam de longe, senti meu corpo bambo, prestes a desmaiar. Em sonho, passei a mão delicadamente sobre os livros, que frente aos dela, ficavam humildes. Então percebi: percebi que a tinha amor. Amava-a por ter sido genial e, sobretudo, por ter ido além de ser humana. Amava Clarice Lispector.

sábado, 23 de outubro de 2010

Me sinto fria, dura, seca e vazia. Como um toco oco, já corroído por cupins. Meus cupins são minhas malditas dúvidas e junto delas, minha covardia.

Pé de Limão

Hoje pela tarde, como de costume nos dias menos agitados, eu estava em meu quarto, deitada, a olhar para o pé de limão vizinho. Aquele pé de limão, que eu tinha como costume adormecer observando-o, que me trazia lembranças tão boas! Ele pertencia mais a mim do que ao vizinho, pois eu era quem o admirava durante as tardes calmas e ensolaradas.
Foi então que me veio uma ideia, assim de repente, como tem costume de chegar as grandes ideias, sempre sorrateiras. E aquele pensamento explicava toda a minha vida vazia: eu não sabia amar, entendia afinal minha tristeza contínua. E talvez nunca fosse mesmo saber. Sei que amor parece ser algo natural, mas talvez eu não gostasse mesmo do amor, ou gostasse demais, pois egoísta, tomava - o só pra mim, não o dava a ninguém, mantendo-o trancado em meu ser, secreto.
Amar é um verbo intransitivo, apenas amamos. Não importa quem, como ou por quanto tempo. Posso amar alguém por um minuto apenas, e nem por isso, deixei de amar. Penso assim sobre o amor, como algo dinamizado, que abrange desde um simples olhar a um sentimento eterno e intenso.
Mas, quando se tranca o amor, ele deixa de ser amor. Preciso me libertar de tudo isso, que de tão grande, ultrapassa minha forma física, explodindo o meu ser, em uma dor profunda. Ultrapassa meus limites, olho pra mim e vejo o egoísmo e a tristeza de um ser solitário. É preciso que deixe o amor voar, pousar em alguém, e ai, entregá-lo-ei a esse novo ser, sem temer as consequências e as feridas de quando ele já não pertencer a mim.
Amor é solidariedade, é desapego, é liberdade. Quem ama não se prende ao ser amado como quem quer acorrentá-lo. Amar não é possuir. Amor é sentimento de cada um, e ao mesmo tempo, sentimento de todos nós. Amor vai, amor volta, está em constante movimento, esfria, aquece, arde com a paixão. Traz tristeza, alegria, saudade, prazer, sabedoria, e tudo mais que você quiser ter. Amor é a chave para o mundo, mas para abrir portas, é preciso que tiremos as chaves do bolso.
É tão triste não saber amar. É como se não soubesse viver. Será que sei viver? Às vezes me passam essas ideias pela cabeça nessas tardes sossegadas.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

mentiras

Pra que fingir que não posso mais?
Pra que chorar pelo que já passou?
Pra que mentir dizendo sentir toda dor
Se na verdade, acho graça de todo o ardor?

Pra que me serviria à hipocrisia,
Pra provar-me mais inteligente?
A verdade pertence ao sábio,
e a esse o mundo.

Mentiras são tolices,
que vão com a mesma facilidade da água que escorre.
Servem pra tapar a fraqueza do burro,
que continua burro.

Mentiras são traições,
necessárias a nós humanos,
que mesmo sabendo disso,
seguimos pelo caminho errante.

Essa será nossa sina constante,
Até que, fujamos retirantes,
desse mundo infiel
Em que a mentira é gritante.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Vejo-te de longe, distante.
Tocando-me
Amando-me
Iluminando-me,
Poente.
Pôr-do-sol toda tarde.
Minha mente está doente
de tanto descansar,
enferrujou.
Não sabia que tempo de nada
era perigoso pras ideias
Ele assassinou elas.