domingo, 23 de maio de 2010

Por dentre as montanhas,
Numa terra de árvores frondosas
Águas claras e flores singelas,
Lá longe, nas raízes da poesia
Nasce minha alma e a fantasia.

Por dentre a escuridão,
Numa terra de criaturas pavorosas
Banhada pelas negras águas do silêncio
Aqui perto, nas raízes da solidão,
Nasce meu corpo e meu coração.

Finjo fazer disso tudo uma junção
Mas na verdade sigo a levar meus versos
Para meu pecaminoso caminho de traição:
Sou poeta de mentira.

Versos soltos

Não tenho nada.
Não sou nada.
Minha vida é vã.
Talvez eu nem chegue a ser.
E caso seja,
Não vivo minha essência,
Não gozo de minha existência.
Mas o que mais posso querer?
Só quis ter as palavras como companhia,
Escolhi viver para a poesia.

Versos soltos

Não tenho nada.
Não sou nada.
Minha vida é vã.
Talvez eu nem chegue a ser.
E caso seja,
Não vivo minha essência,
Não gozo de minha existência.
Mas o que mais posso querer?
Só quis ter as palavras como companhia,
Escolhi viver para a poesia.

sábado, 8 de maio de 2010

Fernando Pessoa(Poesias de Álvaro de Campos)

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, 21/10/1935

domingo, 2 de maio de 2010

Amar! - Florbela Espanca

Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

Florbela Espanca.