sábado, 23 de janeiro de 2010

Abiose

Sinto meus membros
Desmembrados,
Minha voz
Ausente se fez
Sinto minha cabeça
Exaurida
Meus pés gastos
De tanto percorrer
O caminho incerto
Da minha sina
Meu corpo gasto
Pelo cansaço
De uma mente
Que não sabe se faz
O que condiz com o que é.


2009

domingo, 17 de janeiro de 2010

Por dentre essas montanhas, morros,
Deveria haver rios de águas límpidas correndo
Árvores crescendo,
Animais vivendo.
Mas ao invés disso, o que existe são barracos, buracos
Lixo e podridão
Que invadem a paisagem
Ruas estreitas, ruelas, becos, que levam a lugares incertos
De forma insegura
Em que vivem pessoas excluídas da sociedade
Que parecem ser invisíveis aos olhares cruéis
Despreocupados e desinteressados
Do restante da cidade
Um lugar em que a violência
Aparenta ser a única maneira
De sair, fugir, dessa dura realidade
Que aperta e sufoca
Mata e destrói
Sacrifica, machuca, corrói.

Se um dia eu partir ,
Sem avisar nem ligar,
Não se preocupe meu bem,
Se não voltar logo
Prometo mandar-te notícias
E com você sempre sonhar.
Talvez até ouças falar de mim
Você sabe que sou imprevisível
Não se culpe,
Mas se tiveres raiva de mim, entenderei.
Mas lembra-te que sou como um pássaro,
Que nunca em uma gaiola gostaria de viver
E estarei sempre a migrar,
Para onde o clima melhor estiver.
Por que tu não tomas coragem
Larga de bobagem
Esquece a realidade,
E vem me dizer
Em segredo
Sem medo
O que até hoje só li?
Nessas suas páginas negras
Que não me assustam,
Somente me encantam
Por onde suas palavras me embaiam?

Não perca tempo
Venha logo correndo
Dizer o que tem sentido
Por mim
Confessar-me teus delírios
Bem ao pé do ouvido
Com seu jeito sorrateiro
De menino arteiro que és
E com sua poesia
Bem na ponta da língua.

Mas seja rápido meu bem
Pois o tempo corre
E de você,
Não tenho piedade.
Esse brilho que tu tens nos olhos
Quando me lanças um olhar inocente
Essa cara que tu fazes quando meu corpo deseja
O jeito que tuas mãos bailam sobre meu corpo
A maneira como teus lábios tocam nos meus
Essa mania que tu tens de querer repousar tua cabeça em minhas pernas
E de dizer que me amas
Atraem-me.

Esse jeito que me olhas
Esse mistério que tu deixas no ar

O jeito como faz-me de ti querer provar
A raiva que tenho por não conseguir decifrar-te
E por tão pouco conhecer-te
Esse gostinho de proibido que tu tens
Deliciam-me.
Ele chegava seu corpo
Junto ao dela
E sentia seu cheiro doce
Seu cheiro de pureza
Que lutava
Desesperadamente
Incansavelmente
Contra o cheiro podre
Cheiro de malícia.
E ele buscava nela o refugio
Para o pecado que perpetrava ali.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

É tudo culpa dos olhos

Meus olhos penetravam
Em seus pensamentos
Tentavam decifrar os seus sentimentos
Mas fugiam
Julgavam-se culpados
Como criminosos
Mas logo voltavam
Não resistiam
E se surpreendiam
Ao encontrar
Outro par de olhos
Que correspondiam
Espantavam-se
Mas ao fundo se divertiam e se deliciavam
Como quem desfruta de um pecado saboroso
Mas não quer ser descoberto.