sábado, 23 de outubro de 2010

Pé de Limão

Hoje pela tarde, como de costume nos dias menos agitados, eu estava em meu quarto, deitada, a olhar para o pé de limão vizinho. Aquele pé de limão, que eu tinha como costume adormecer observando-o, que me trazia lembranças tão boas! Ele pertencia mais a mim do que ao vizinho, pois eu era quem o admirava durante as tardes calmas e ensolaradas.
Foi então que me veio uma ideia, assim de repente, como tem costume de chegar as grandes ideias, sempre sorrateiras. E aquele pensamento explicava toda a minha vida vazia: eu não sabia amar, entendia afinal minha tristeza contínua. E talvez nunca fosse mesmo saber. Sei que amor parece ser algo natural, mas talvez eu não gostasse mesmo do amor, ou gostasse demais, pois egoísta, tomava - o só pra mim, não o dava a ninguém, mantendo-o trancado em meu ser, secreto.
Amar é um verbo intransitivo, apenas amamos. Não importa quem, como ou por quanto tempo. Posso amar alguém por um minuto apenas, e nem por isso, deixei de amar. Penso assim sobre o amor, como algo dinamizado, que abrange desde um simples olhar a um sentimento eterno e intenso.
Mas, quando se tranca o amor, ele deixa de ser amor. Preciso me libertar de tudo isso, que de tão grande, ultrapassa minha forma física, explodindo o meu ser, em uma dor profunda. Ultrapassa meus limites, olho pra mim e vejo o egoísmo e a tristeza de um ser solitário. É preciso que deixe o amor voar, pousar em alguém, e ai, entregá-lo-ei a esse novo ser, sem temer as consequências e as feridas de quando ele já não pertencer a mim.
Amor é solidariedade, é desapego, é liberdade. Quem ama não se prende ao ser amado como quem quer acorrentá-lo. Amar não é possuir. Amor é sentimento de cada um, e ao mesmo tempo, sentimento de todos nós. Amor vai, amor volta, está em constante movimento, esfria, aquece, arde com a paixão. Traz tristeza, alegria, saudade, prazer, sabedoria, e tudo mais que você quiser ter. Amor é a chave para o mundo, mas para abrir portas, é preciso que tiremos as chaves do bolso.
É tão triste não saber amar. É como se não soubesse viver. Será que sei viver? Às vezes me passam essas ideias pela cabeça nessas tardes sossegadas.