quarta-feira, 28 de março de 2012

Camomila


Quando a gente e encontrava quase que dava pra ouvir a explosão. Você me tocava forte e eu dizia não, não. Mas você parecia que nem queria me ouvir, e ficava assim, debochando do meu não, e eu caindo no seu sim. Era um jogo doce que você fazia comigo. E eu jogava.
Aquilo que eu nunca soube explicar já durava pra lá de Abril. Por vezes me peguei procurando entender em que tempo tudo se encaixava. Mas não, a gente era pra mais do tempo. Tanto era que eu ficava meio assim sem rumo quando te via. Você olhando as estrelas, como quem não quer nada, enquanto eu te laçava as mãos, e íamos assim, caminho sem volta, pela orla de uma praia qualquer.
Era gostoso o som que você fazia depois de me beijar. E enquanto eu te beijava dava pra sentir sua respiração na minha. Não sei se eram os cabelos, o cheiro, ou o quê. Não sei. Sei que você me arrepiava, e eu olhando você entrar na água azul, assim, as ondas quebrando nos seus joelhos, o sol queimando seus cabelos (que ficavam cada vez mais loiros), eu te vendo com dificuldade já, você nadando mais que sereia... Eu cruzava os braços, segurando aquele seu vestido branco de renda, os bordados eu sabia de cor.
Eu te olhava não conseguindo imaginar nada que importasse mais na vida que aquilo. Talvez a vida fosse aquilo mesmo. Seja assim, esse tudo...mas curto suspiro. Você gritava, vem,vem! Eu ali, naquele suspiro. Você ali, naquele respiro.
Encontrávamo-nus e eu tentava te tirar tudo de uma só vez.  Você com o sorriso habitual de tranquila... ar de feliz. Ria por baixo dos lençóis, fazia sinais de abraço, escondia o rosto, corria pela casa sem as roupas e com as janelas abertas.
É que você parecia mesmo não ter medo da vida. Era tudo parte de um grande mundo, que te aguardava. E você, paciente.
Mas quando a gente se encontrava era explosão. Eu via as faíscas ralando em mim. Você nem ligava. Aquele olhar brando... Era tudo tão inquieto... instável...que até parecia amor.
Às vezes eu abraçava seu travesseiro só pra sentir seu cheiro de camomila.
-Você me ama?
-É claro.
- De verdade?
-Não.
...
-Amo de sonho mesmo.

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