Descamando a poesia minha língua
segue. Sinto o grande músculo úmido passar pelas escamas da palavra. Minha
língua é sensível e me revela detalhes sobre essas frases que nenhuma outra
parte do corpo me revelaria. Ela é sonora: me conta a palavra, me canta a
música e decifra a memória.
Movendo-a
lentamente passo por tudo, desde as superfícies brancas até os subúrbios
obscuros...passo por regiões quentes e outras mais frias; por pessoas gentes e
outras mais vazias; por durezas e coisas macias...sigo. Na poesia não há
ninguém que não escreva e ninguém que não escute. O ruído dos versos é
ensurdecedor...eles pedem tudo, tudo. Na poesia não há ninguém que não invente
e ninguém que não travessia: e caminhos tem aos montes, dentre versos e rimas,
existem as pontes...
- mas o que tanto escreve mulher?
- eu escrevo o que eu tenho
invento o que eu não tenho e num começo dou um pulo e um suspiro de alívio:
estou viva, e respiro.