terça-feira, 5 de julho de 2011

Aplausos. ( Humano-ser)

Silêncio, escuro, luz focada no ator, que está no centro do palco, de cabeça baixa e olhos fechados.


Pedro abre os olhos e olha pra a platéia.

- Tudo o que fizeram comigo ficou. Ficou marcado e pendurado em mim. Já o que eu fiz... bom, o que eu fiz não importa. Passou. Não se importaram no dia em que eu chorei, tampouco no dia em que eu sorri... O que diminuiu meu sorriso.

Ele pega um espelho, e dirige ao rosto, devagar.

- Olho meu rosto no espelho, à procura de traços. Traços de mim.

Joga o espelho no chão, mas sem muita força.

- Não vejo!

Agacha-se, e continua caminhando, olhando para a platéia ás vezes.

- Mas mesmo não vendo, gosto de olhar... Permaneço á espreita, observo um mundo decadente. Mas o que eu mudo dizendo essas coisas? Eu, mudo. Ah, bobagem! Ninguém me ouve. Sou só mais um eu em busca do seu eu! É certo, tento encontrar-me, sim. Mas mais que isso busco a verdade. A verdade iluminada no meio do lixo do homem. Homem, lixo. Lixo! (encara a platéia)

- Mas o que se espera, afinal? (risos). Por Deus! Somos tão medíocres! Tão covardes!Tão, tão...nada. E Deus? Bom, Deus... prefiro não falar disso agora.

- e quer saber? Que batam na minha cara!(se bate no rosto) Vamos ver! Eu, como homem, assumo que mereço apanhar!

-até continuar a arrasta-me pelas ruas...como um rato. Até os ratos são mais dignos! A natureza, tamanha perfeição, seguiria seu destino normalmente. Não fosse o homo, mísero, que necessita de provar sua superioridade. Animais! É até um elogio!

(Anda pelo palco)

- O que importa de verdade é que eu estou aqui. (bate no peito, já parado) Ou talvez não importe nada...Vaguei por muito tempo. Tempo demais. Perdido no escuro... mas voltei. Voltei com esperanças de nunca mais partir.

- Afinal, sou ser. Humano-ser.

Luzes se apagam.

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