domingo, 5 de junho de 2011

9 - seu número da noite, ela disse. *

  Cega do olho esquerdo, eu não sabia bem o que via. Corria, corria dentro de mim mesma. Meu silêncio ecoava pela sala, ensurdecendo-me. Sentia-me a maior das ignorantes; meu egoísmo me ultrapassava. Tentava cravar minhas unhas no abstrato; na tentativa vã de me saciar: corpo e alma.


  Estava ali, entre túmulos. Com a forte luz, via a inexistência de vida com clareza. Era a única que se movia, e diferenciava-se entre a palidez do meio.

  Fundia-se com conflitos imaginários. Alguns, reais. Mas o que importava? Tudo se confundia. Era cor naquela brancura; expressão reprimida do seco - pelo menos isso, pensava.

  Quieta, ainda tentava agarrar o abstrato. Foi quando se levantou. De súbito, caminhou sem pressa, pelos corpos nus e empilhados, pelos pêlos e cabelos humanos. Sem medo e nem susto, atravessou um caminho entre a morte da sala branca, e abriu a porta marrom, de madeira envelhecida.

  Quando viu, ela estava lá. Levantou-se de um sofá vermelho e caminhou em minha direção. Os cabelos longos, a pele clara, o olhar seguro, convidavam-me. Tinha certeza. Era como encontrar comigo mesma. Rapidamente joguei o concreto na sala, fechei a porta, e sem olhar pra trás, consegui agarrar o que até então fora abstrato.

 
 
* nota : (se perceberem, o foco narrativo está louco)

Nenhum comentário:

Postar um comentário